Cansei, não: decidi agir
Leila Navarro
Autoajuda
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Cansei, não: decidi agir
Depois de passar algumas semanas fora do país, retornei ao Brasil e fiquei sabendo que havia por aqui um movimento chamado “Cansei”. “Cansei da impunidade”, dizia a propaganda de televisão. “Cansei do caos nos aeroportos”, dizia o anúncio de jornal. Aqui e ali eu também via pessoas que pegavam a onda do “cansei” e se queixavam de situações da vida pessoal: “cansei do meu trabalho” ou “cansei dessa falta de dinheiro”.
O tempo passou e a impressão que tenho é que as pessoas cansaram do “cansei”. Não pretendo aqui discutir o mérito do movimento, quem apoiou e quem deixou de apoiar, nem desejo criar caso com os idealizadores da campanha, que merecem meu maior respeito.
O que me chama atenção é a palavra usada para expressar o descontentamento com uma situação, seja ela da vida pública ou privada: “cansei”. O quanto poderia ir longe um movimento de pessoas que se dizem cansadas? Eis a questão.
Para demonstrar indignação, paciência esgotada ou inconformismo com alguma coisa em minha vida, sinceramente, eu não diria que cansei. No meu entender, dizer-se cansado é entregar os pontos, jogar a toalha no ringue, reconhecer-se impotente para mudar algo que incomoda. “Cansei” tem mais a ver com desistir do que com lutar. Traduz resignação, não atitude.
E como parece que tem gente cansada neste mundo! O que mais vemos são pessoas que reclamam das adversidades da vida e desistem de seus objetivos ao encontrar obstáculos que consideram incapazes de superar.
Talvez por isso, na área do desenvolvimento humano, venha sendo tão enaltecida ultimamente a resiliência, a capacidade de atravessar crises e dificuldades sem se entregar, sem abrir mão daquilo que se deseja, sem se desestruturar.
Estudiosos do comportamento humano têm investigado por que certas pessoas (a minoria) têm essa capacidade, enquanto outras (a maioria) não têm.
Estudam a psique e o modo de vida de gente “dura na queda”, que, por exemplo, vai à falência nos negócios, mas dá a volta por cima e logo já está abrindo outra empresa; perde tudo em guerras ou catástrofes naturais, às vezes até a família, e recomeça a vida; sofre acidentes ou doenças gravíssimas e, contrariando todos os prognósticos médicos, consegue recuperar-se.
O mais recente exemplo de que tive notícia é o da carioca Kristie Hanburry, de 38 anos. Quando tinha apenas 17 anos e iniciava uma promissora carreira de modelo, ela tropeçou enquanto corria e bateu violentamente a testa em um portão de ferro. Teve edema cerebral, fraturou a 3ª. e 5ª. vértebras e ficou tetraplégica. Qualquer pessoa se sentiria brutalmente injustiçada e impotente nessa situação, mas Kristie não admitia a possibilidade de passar o resto da vida em uma cama.
Com um intenso tratamento de fisioterapia, foi recuperando os movimentos dos membros aos poucos e voltou a andar dois anos e meio depois do acidente . Atualmente é jogadora de pólo e fundadora da primeira equipe feminina dessa modalidade no Brasil.
Os estudiosos tentam entender o que torna as pessoas resilientes: se é um fator genético, o ambiente familiar e social, o perfil psicológico ou o sistema de crenças do indivíduo, por exemplo.
A impressão que dá é que essa capacidade de atravessar graves crises e reorganizar a vida é considerada um traço incomum, um “plus” que alguns possuem. Mas eu me pergunto: será que não se trata de um potencial que o ser humano de fato tem, mas nem todos usam? Penso que pode ser isso.
Se observarmos a Natureza, veremos que todos os seres vivos, desde os mais elementares, têm a capacidade de se adaptar a mudanças, sobreviver a crises e se reorganizar.
Vírus e bactérias mutam para resistir a ambientes hostis. Plantas brotam depois de ter os galhos cortados. Animais migram quando as condições do habitat dificultam sua sobrevivência.
Enquanto ser biológico, o homem não destoa da Natureza: seu organismo reconstitui tecidos, seu cérebro recupera as funções executadas por uma área que foi lesionada, seus demais sentidos se aguçam para compensar a perda da visão...
Enquanto ser racional, porém, o homem reclama! Ele tenta de todas as maneiras controlar o ambiente ao seu redor, tornar a vida segura e confortável, fazer do futuro algo previsível. Então, quando as coisas não acontecem do jeito que espera, quando se depara com obstáculos para atingir seus objetivos, enfrentar problemas ou situações desestabilizadoras, é um drama! Ele encara essas circunstâncias como ameaças à sua estabilidade e vontade e protesta, e esperneia, e reclama...
Só que isso não produz nada, a não ser desperdício de energia. O homem por fim se cansa, se resigna com a situação e “deixa prá lá”. E tudo continua como está.
Como seres racionais, na verdade, o que deveríamos fazer ante a adversidade ou a crise é nos perguntar: “Por que estou passando por isso? O que essa situação pode me ensinar?” Porque enquanto os outros seres vivos sobrevivem e evoluem por sua própria natureza, devemos fazê-lo por vontade e consciência.
Não gostamos de adversidades, problemas e crises porque eles desestabilizam nossa vida, interrompem nosso curso e trazem desconforto e dor. E se há alguma coisa que tentamos a todo custo evitar é a dor! É para não torná-la mais intensa que muitas vezes evitamos de ir fundo nas causas dos nossos problemas ou atravessar nossas crises.
Tentamos nos convencer de que “isso não tem jeito mesmo” e entregamos os pontos. A dor continua lá, incomodando, mas vamos tentando conviver com ela, nos distraindo com outras coisas para ver se quem sabe ela passa...
Mas será que passa? Em nosso íntimo, sabemos que não. O problema que resistimos a resolver se agrava, a crise que tentamos ignorar se aprofunda... Chega um momento em que a situação fica insuportável e somos obrigados a tomar uma atitude. Por isso, em vez de dizer que cansei, prefiro partir logo para o “decidi agir”. Quanto mais cedo tomarmos uma atitude com relação ao que nos prejudica ou incomoda, melhor.
Se você está cansado de uma situação incômoda de sua vida, olhe para ela. Que sentimentos ela
Depois de passar algumas semanas fora do país, retornei ao Brasil e fiquei sabendo que havia por aqui um movimento chamado “Cansei”. “Cansei da impunidade”, dizia a propaganda de televisão. “Cansei do caos nos aeroportos”, dizia o anúncio de jornal. Aqui e ali eu também via pessoas que pegavam a onda do “cansei” e se queixavam de situações da vida pessoal: “cansei do meu trabalho” ou “cansei dessa falta de dinheiro”.
O tempo passou e a impressão que tenho é que as pessoas cansaram do “cansei”. Não pretendo aqui discutir o mérito do movimento, quem apoiou e quem deixou de apoiar, nem desejo criar caso com os idealizadores da campanha, que merecem meu maior respeito.
O que me chama atenção é a palavra usada para expressar o descontentamento com uma situação, seja ela da vida pública ou privada: “cansei”. O quanto poderia ir longe um movimento de pessoas que se dizem cansadas? Eis a questão.
Para demonstrar indignação, paciência esgotada ou inconformismo com alguma coisa em minha vida, sinceramente, eu não diria que cansei. No meu entender, dizer-se cansado é entregar os pontos, jogar a toalha no ringue, reconhecer-se impotente para mudar algo que incomoda. “Cansei” tem mais a ver com desistir do que com lutar. Traduz resignação, não atitude.
E como parece que tem gente cansada neste mundo! O que mais vemos são pessoas que reclamam das adversidades da vida e desistem de seus objetivos ao encontrar obstáculos que consideram incapazes de superar.
Talvez por isso, na área do desenvolvimento humano, venha sendo tão enaltecida ultimamente a resiliência, a capacidade de atravessar crises e dificuldades sem se entregar, sem abrir mão daquilo que se deseja, sem se desestruturar.
Estudiosos do comportamento humano têm investigado por que certas pessoas (a minoria) têm essa capacidade, enquanto outras (a maioria) não têm.
Estudam a psique e o modo de vida de gente “dura na queda”, que, por exemplo, vai à falência nos negócios, mas dá a volta por cima e logo já está abrindo outra empresa; perde tudo em guerras ou catástrofes naturais, às vezes até a família, e recomeça a vida; sofre acidentes ou doenças gravíssimas e, contrariando todos os prognósticos médicos, consegue recuperar-se.
O mais recente exemplo de que tive notícia é o da carioca Kristie Hanburry, de 38 anos. Quando tinha apenas 17 anos e iniciava uma promissora carreira de modelo, ela tropeçou enquanto corria e bateu violentamente a testa em um portão de ferro. Teve edema cerebral, fraturou a 3ª. e 5ª. vértebras e ficou tetraplégica. Qualquer pessoa se sentiria brutalmente injustiçada e impotente nessa situação, mas Kristie não admitia a possibilidade de passar o resto da vida em uma cama.
Com um intenso tratamento de fisioterapia, foi recuperando os movimentos dos membros aos poucos e voltou a andar dois anos e meio depois do acidente . Atualmente é jogadora de pólo e fundadora da primeira equipe feminina dessa modalidade no Brasil.
Os estudiosos tentam entender o que torna as pessoas resilientes: se é um fator genético, o ambiente familiar e social, o perfil psicológico ou o sistema de crenças do indivíduo, por exemplo.
A impressão que dá é que essa capacidade de atravessar graves crises e reorganizar a vida é considerada um traço incomum, um “plus” que alguns possuem. Mas eu me pergunto: será que não se trata de um potencial que o ser humano de fato tem, mas nem todos usam? Penso que pode ser isso.
Se observarmos a Natureza, veremos que todos os seres vivos, desde os mais elementares, têm a capacidade de se adaptar a mudanças, sobreviver a crises e se reorganizar.
Vírus e bactérias mutam para resistir a ambientes hostis. Plantas brotam depois de ter os galhos cortados. Animais migram quando as condições do habitat dificultam sua sobrevivência.
Enquanto ser biológico, o homem não destoa da Natureza: seu organismo reconstitui tecidos, seu cérebro recupera as funções executadas por uma área que foi lesionada, seus demais sentidos se aguçam para compensar a perda da visão...
Enquanto ser racional, porém, o homem reclama! Ele tenta de todas as maneiras controlar o ambiente ao seu redor, tornar a vida segura e confortável, fazer do futuro algo previsível. Então, quando as coisas não acontecem do jeito que espera, quando se depara com obstáculos para atingir seus objetivos, enfrentar problemas ou situações desestabilizadoras, é um drama! Ele encara essas circunstâncias como ameaças à sua estabilidade e vontade e protesta, e esperneia, e reclama...
Só que isso não produz nada, a não ser desperdício de energia. O homem por fim se cansa, se resigna com a situação e “deixa prá lá”. E tudo continua como está.
Como seres racionais, na verdade, o que deveríamos fazer ante a adversidade ou a crise é nos perguntar: “Por que estou passando por isso? O que essa situação pode me ensinar?” Porque enquanto os outros seres vivos sobrevivem e evoluem por sua própria natureza, devemos fazê-lo por vontade e consciência.
Não gostamos de adversidades, problemas e crises porque eles desestabilizam nossa vida, interrompem nosso curso e trazem desconforto e dor. E se há alguma coisa que tentamos a todo custo evitar é a dor! É para não torná-la mais intensa que muitas vezes evitamos de ir fundo nas causas dos nossos problemas ou atravessar nossas crises.
Tentamos nos convencer de que “isso não tem jeito mesmo” e entregamos os pontos. A dor continua lá, incomodando, mas vamos tentando conviver com ela, nos distraindo com outras coisas para ver se quem sabe ela passa...
Mas será que passa? Em nosso íntimo, sabemos que não. O problema que resistimos a resolver se agrava, a crise que tentamos ignorar se aprofunda... Chega um momento em que a situação fica insuportável e somos obrigados a tomar uma atitude. Por isso, em vez de dizer que cansei, prefiro partir logo para o “decidi agir”. Quanto mais cedo tomarmos uma atitude com relação ao que nos prejudica ou incomoda, melhor.
Se você está cansado de uma situação incômoda de sua vida, olhe para ela. Que sentimentos ela
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